quarta-feira, 16 de maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Meu Castelo de Cartas de Baralho


Desconstrução.

Parece fácil quando “desconstruir” soa como “destruir”.

Pena nem sempre significarem a mesma coisa – porque seria bem mais fácil de aceitar, concretizar, entender, sei lá. Talvez fosse melhor ser implodido, para não ter mais dúvidas se o que ficou é porque é bom ou está para ser derrubado a qualquer momento também. Mas a desconstrução a qual me refiro não tem por objetivo destruir o alicerce. Não mesmo. Um olhar mais apurado, além dos escombros e poeira, me mostrará que o alicerce sempre foi a única coisa que importou; e que permanece intacto, independente do acabamento.

Por algum motivo associo a desconstrução a algo que estou fazendo. Vejo-me quebrando alguns muros, ventilando locais em que há muito não se sentia uma brisa sequer. Quando penso nisso vejo a cena de um operário arremetendo sua marreta contra uma parede já em decomposição, em slow motion, até que cada estilhaço de concreto seja lançado ao chão.

Mas a verdade é que não estou desconstruindo nada. Se eu for sincero comigo mesmo, vou assumir que EU é que estou sendo desconstruído. A prova disso é que eu não tenho controle sobre aquilo que se esfacela diante de mim. E que aqui dentro, o castelinho feito (cuidadosamente) de cartas de baralho passa por seu pior pesadelo: o vendaval de uma respiração um pouquinho mais forte.

Pobre castelo.

Tao frágil em suas convicções e tão suscetível ao ambiente que o cerca. Penso em quanto trabalho deu empilhar carta por carta, usando meu pouco conhecimento em física (do ensino médio) na tentativa de equilibrar algo que, mesmo não afirmando, dentro de mim já pairava a certeza de sua fragilidade.

Onde isso vai dar? Não faço ideia. Não sei se quero mesmo saber aonde vai dar (e também não tenho raiva de quem sabe), porque isso é algo que não me interessa. Não me interessa porque não vejo a desconstrução de hoje com o olhar de uma vitima do Tsunami, em busca de justiça. Sou parte do processo. Coisa que nunca havia percebido antes das primeiras cartas desabarem. Sempre me vi em um processo, mas hoje é real o entendimento de que se existe um processo, ele ocorre em mim e através de mim para outro alguém. E dessa forma aprendo a confiar mais naquele que um dia começou a obra.

Resumindo, continuo despencando. O que não é de todo ruim, uma vez que no reino em que estou descer é subir, esperar é caminhar. Desacredito de um monte de coisas e a outras dou o privilegio da dúvida, coisa que jamais faria anteriormente. Não me importo se essa desconstrução vai demorar. Perdi o gás de provar para A ou B que tenho que ser alguma coisa em algum prazo específico.

Não tenho chamado para ser Neemias. O máximo que conseguiria era remendar alguns buracos e dar uma aparência de reconstrução. Um castelo mais bonitinho, talvez.

Em alguns anos ou talvez meses, esse texto poderá ser traduzido como uma grande bobagem, uma infantilidade da época. Mas por enquanto, que ele é real para mim, sigo capenga para o Alvo. Deixando pedaços pelo caminho e vendo a cada dia o brotar de novas convicções, diante da única certeza que permanece inabalável durante dezoito anos: que conhecer Deus mediante seu filho Jesus foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!


F. Sales

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domingo, 8 de janeiro de 2012

Desprendimento




Não lembro o dia exato em que reconheci Jesus Cristo. Sei que alguém vai achar isso um absurdo, mas tudo bem.

Não foi o melhor dia da minha vida.
Não mesmo.

Foi, sim, um dos mais estranhos, ilógicos e constrangedores momentos pelo qual já passei.

Dizer em público que eu o recebia era afirmar que eu nunca o tinha conhecido de verdade, embora soubesse algumas coisas a seu respeito.

Também não me recordo do dia exato em que o conheci. Por baixo, lembro-me do ano e chuto o mês de setembro por causa de alguns cálculos mal elaborados relativos à outras memórias.

O que posso dizer com toda certeza é que foram duas experiências distintas.

A primeira, perante homens, sem entender muito bem o que acontecia, apenas sendo guiado a acreditar que aquilo era o certo a se fazer. Na segunda, sozinho, sentado no sofá com uma bíblia na mão, a certeza invadiu o meu ser.

Naquele dia, sem data e horário registrados na memória, o Seu Espírito confirmou ao meu que eu era aceito, uma vez para sempre, como Seu filho.

As marcas estão na caminhada e não necessariamente no marco zero. As boas recordações estão em inúmeros momentos de leitura, de ansiedade pelo encontro, nas orações fragilizadas de quem está aprendendo a falar com o Pai, na radiante vontade de servir, na alegria de se encontrar companheiros e partilhar a vida com eles.

O que sei é que hoje continuo com a mesma dificuldade com datas, embora as lembranças sejam profundamente atuais. Lembranças de um passado sempre presente, trazidas à memória para dar esperança.

As boas lembranças da caminhada temperam minha esperança.

Além disso, o que faz a caminhada excitante é justamente não se apegar ao que está no caminho. Olhe em sua volta. O que você conseguiu trazer consigo até hoje?

Pessoas, frutos, bons resultados... Tudo isso é inconstante, por vezes imprevisível. As únicas três coisas possíveis de se carregar são a fé, o amor e a esperança.

É disso que se trata o caminho. Desprendimento.

No caminho não há espaço para duas túnicas nem para o pão, porque não há mochila. Não se precisa de cajado de profetas nem dinheiro se faz necessário.

É quase sempre não saber qual é o próximo passo; é não perceber qual é a porta certa e por isso ver a bondade de Deus em fechar a errada.

É não saber todos os porquês. É não ter respostas prontas mediante o sofrimento alheio, mas perceber a voz no subconsciente ensinando preciosas lições nas derrotas.

É sentir-se seguro mesmo sem saber absolutamente nada sobre o dia de amanhã. 

É entender que ser filho é ser guiado pelo Espírito.

A caminhada é isso. Ouvir e reconhecer a familiaridade da voz do Bom Pastor e segui-lo.

O resto é aventura. 


F. Sales
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Não se iluda


Não se iluda.

Você não pode fazer ninguém crescer. Tão pouco crescer por intermédio de alguém. Retire hoje mesmo esse peso das suas costas e dê sossego a outros também.

Crescimento vem de Deus. Apenas Dele. O máximo que se pode fazer é plantar e regar.

Plantar e regar são uma coisa só perante Deus, mas ainda existem os que se partidarizam, escolhendo o seu lado favorito. Enquanto empregam energia escolhendo entre Paulo e Apolo, faz-se necessário voltarem ao leitinho, recebido antigamente quando ainda eram crianças (e ainda são).

“Sim, vocês são carnais”, afirma o apóstolo, “porque no meio de vocês tem inveja e contenda por causa da explícita preferência por ministros de Deus”.

E você pensando que essa idolatria por homens de Deus era coisa recente...

Desde os tempos apostólicos que uns são de Paulo, outros de Apolo, ainda outros de Cefas e outros de... Cristo?!

Idolatria gospel é mais comum do que se imagina. É aquela pulsão que coloca um ministro de Deus equivalente a Cristo. Estes homens realmente acreditam que são especiais. Acreditam que fazem pessoas crescerem e pior, aceitam ser tratados como tais.

E quanto ao povo? Bem, o povo, como disse o poeta, segue a passos de formiga e sem vontade. Porque basta-lhe as vontades dos tais homens, os sonhos, projetos... e por que não as ambições (divinamente chamadas de vontade de Deus)?

Eu me entristeço pelo meu povo. A cada dia que passa ele busca um messias mais terreno, visível, que construa algo grandioso em sua geração e faz isso com sinceridade de espírito e ignorância teológica. Ao mesmo tempo em que acredita que Jesus pensa como um empreendedor do século XXI, endeusa homens pelos seus dons. Não percebe que é impossível ser de Paulo ou de Apolo sem rebaixar Cristo ao mesmo patamar, colocando um outro fundamento além do que já foi posto.

Não se iluda.

Somos apenas colaboradores, despenseiros. Nenhum maior que o outro. Crescimento vem de Deus. Apenas Dele.


“Por acaso Cristo está dividido?
Foi Paulo que morreu no seu lugar?
Vocês foram batizados em nome de Paulo?”