domingo, 8 de janeiro de 2012

Desprendimento




Não lembro o dia exato em que reconheci Jesus Cristo. Sei que alguém vai achar isso um absurdo, mas tudo bem.

Não foi o melhor dia da minha vida.
Não mesmo.

Foi, sim, um dos mais estranhos, ilógicos e constrangedores momentos pelo qual já passei.

Dizer em público que eu o recebia era afirmar que eu nunca o tinha conhecido de verdade, embora soubesse algumas coisas a seu respeito.

Também não me recordo do dia exato em que o conheci. Por baixo, lembro-me do ano e chuto o mês de setembro por causa de alguns cálculos mal elaborados relativos à outras memórias.

O que posso dizer com toda certeza é que foram duas experiências distintas.

A primeira, perante homens, sem entender muito bem o que acontecia, apenas sendo guiado a acreditar que aquilo era o certo a se fazer. Na segunda, sozinho, sentado no sofá com uma bíblia na mão, a certeza invadiu o meu ser.

Naquele dia, sem data e horário registrados na memória, o Seu Espírito confirmou ao meu que eu era aceito, uma vez para sempre, como Seu filho.

As marcas estão na caminhada e não necessariamente no marco zero. As boas recordações estão em inúmeros momentos de leitura, de ansiedade pelo encontro, nas orações fragilizadas de quem está aprendendo a falar com o Pai, na radiante vontade de servir, na alegria de se encontrar companheiros e partilhar a vida com eles.

O que sei é que hoje continuo com a mesma dificuldade com datas, embora as lembranças sejam profundamente atuais. Lembranças de um passado sempre presente, trazidas à memória para dar esperança.

As boas lembranças da caminhada temperam minha esperança.

Além disso, o que faz a caminhada excitante é justamente não se apegar ao que está no caminho. Olhe em sua volta. O que você conseguiu trazer consigo até hoje?

Pessoas, frutos, bons resultados... Tudo isso é inconstante, por vezes imprevisível. As únicas três coisas possíveis de se carregar são a fé, o amor e a esperança.

É disso que se trata o caminho. Desprendimento.

No caminho não há espaço para duas túnicas nem para o pão, porque não há mochila. Não se precisa de cajado de profetas nem dinheiro se faz necessário.

É quase sempre não saber qual é o próximo passo; é não perceber qual é a porta certa e por isso ver a bondade de Deus em fechar a errada.

É não saber todos os porquês. É não ter respostas prontas mediante o sofrimento alheio, mas perceber a voz no subconsciente ensinando preciosas lições nas derrotas.

É sentir-se seguro mesmo sem saber absolutamente nada sobre o dia de amanhã. 

É entender que ser filho é ser guiado pelo Espírito.

A caminhada é isso. Ouvir e reconhecer a familiaridade da voz do Bom Pastor e segui-lo.

O resto é aventura. 


F. Sales
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