Jesus o viu.
Os discípulos, aproveitando o gancho, jogaram-lhe uma pergunta daquelas, estilo “dúvidas frequentes”:
– Mestre, quem pecou, ele ou seus pais para que nascesse cego?
– Nenhum dos dois, respondeu Ele.
Explicou que o homem estava assim para uma manifestação especifica da glória de Deus, mas os advertiu a aproveitar as situações, enquanto era dia. O trabalho designado pelo Pai só pode ser feito enquanto é dia, enquanto há luz. A noite está chegando e com ela a ausência de luz.
Um modo simples de dizer que sem a luz que provém Dele, é impossível fazer a obra sacra.
Cuspiu, enlodou e lambuzou os olhos do homem. Depois ordenou que fosse se lavar (lógico, quem não iria?).
O homem foi, lavou-se e já voltou enxergando.
Coloque-se no lugar do cego agora.
Burburinhos. Multidões. Passos apressados, poeira encostando-se à pele. Algo está acontecendo e vem nessa direção.
Não reconheço a voz, mas sei que falam de mim, porque alguém pergunta a seu Rabi o que fiz ou o que fizeram meus pais, para eu ter nascido assim.
Como posso ter feito algo antes do meu nascimento? É claro que foram meus pais!
A resposta me intriga. “Ninguém”?
Ele não explica como funciona a vida, nem porque as coisas acontecem assim, nem filosofa sobre o bem e o mal, certo e errado...
Ele é prático.
Suas próximas palavras fazem seus seguidores perceberem que não interessa quando, como ou quem fez por merecer. O importante é saber que ainda é dia, que há luz quando Ele está presente.
Ouço os passos. Ele se aproxima. Quer dizer, só pode ser ele! Eu quero que seja Ele!
Segue-se um momento de silêncio. Não sei o que está acontecendo até sentir o áspero toque de algo como argila, eu acho, nos meus olhos.
Ele me diz para limpar-me, e logo alguém me guia em direção ao poço. No caminho, contam-me o que Ele fez, e só me questiono por que. Afinal de contas, não é deste que tanto ouvi falar? Não é ele quem diz apenas uma palavra e pessoas são curadas, ou que toca (e não cospe) e um coxo anda?
Lavo o rosto com certa ansiedade. Quero tirar isso de mim!
Mas para minha surpresa, fagulhas de luz penetram meu olhos. Sinto o leve ardor de quem sai do escuro e olha para um clarão.
E aos poucos... enxergo.
Tudo é belo, novo, empolgante. As pessoas me fazem perguntas, questionam minha conduta, alegando que provavelmente eu sempre vi, mas o que sei é que eu era cego, e agora posso ver.
Fim da história.
Duas pergunta:
- Acha que se aquele homem tivesse outro tipo de enfermidade, que não fosse a cegueira, deixaria Jesus cuspir e esfregar sem nenhum questionamento?
- O quão cego você precisa se tornar para que ele possa agir?
F. Sales
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